Longe do Consenso

Há tão pouco consenso em torno do tema que nem o co-autor do estudo sobre os efeitos positivos da exportação de primários, Joal de Azambuja Rosa, concorda com a interpretação de Bêrni.

Três dias depois da apresentação do trabalho, o próprio Ipea divulgou documento que identifica um processo alarmante de desindustrialização no Brasil.

A mesma tese já foi defendida por federações empresariais e pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), além de líderes oposicionistas, como os tucanos José Serra e Aécio Neves.

O governo Dilma, que evita usar o termo, segue a agenda de desonerações tributárias, subsídios e outros incentivos pleiteados pelo empresariado, embora sob críticas ao alcance das medidas.

Dilma, Serra, a equipe econômica e o comando do Ipea são herdeiros do desenvolvimentismo concebido na América Latina após o final da Segunda Guerra Mundial, segundo o qual a indústria é o motor de inovação tecnológica e progresso.

Economistas mais liberais, como Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, veem a questão de outra forma. Para ele, o boom dos preços dos produtos primários a partir da década passada pode ser ou não um fator de instabilidade para as economias produtoras.

Segundo trabalho que fez com Albert Fishlow, o Chile aproveitou o fenômeno para alavancar a renda per capita. Já Argentina e Venezuela, com políticas inadequadas, não conseguiram o mesmo.

Em estudo publicado pela Fundação Getúlio Vargas, Regis Bonelli e Samuel Pessôa concluem que a indústria tinha participação exagerada no PIB até meados dos anos 1990, corrigida a partir da abertura da economia.

Fonte: Folha SP